Enérgicos, empreendedores e ansiosos por novos desafios, os jovens estão cada vez mais qualificados e à procura de papéis de destaque no mercado de trabalho. Mas será que os líderes estão preparados para recebê-los?
Resultado de constantes mudanças da sociedade, a chegada da nova geração às empresas causou grandes impactos e passou a exigir uma abordagem diferenciada dos líderes, que precisam se reinventar diariamente para mantê-los nas organizações.
Em meio a este cenário encontramos, principalmente, jovens conhecidos como “Geração Y” ou “Millennials”; aqueles nascidos entre os anos de 1980 e 1995. Este perfil conta com profissionais multitarefas, que possuem facilidade em trabalhar em mais de um projeto. São considerados inovadores e possuem certa dificuldade em manter compromissos longos, o que resulta em carreiras mais curtas que o esperado.
Mas há um grupo recém-chegado ao mercado de trabalho que têm preocupado ainda mais as organizações. Os nascidos após a década de 90, conhecidos como “Geração Z”. Pode-se dizer que os profissionais deste perfil já nasceram conectados à internet e não precisaram se adaptar à tecnologia como as gerações anteriores. É considerado um perfil pragmático e autodidata, anseia resolver tudo de forma rápida e possui certa dificuldade com hierarquias.
Para compreender essas gerações e fazê-las trabalhar em harmonia dentro das organizações, é necessário adotar um novo estilo de liderança. E certamente as empresas que conseguirem manter cada uma dessas gerações engajadas e motivadas a darem o melhor de si, contarão com ótimos resultados.
Apresentarei neste artigo o modelo de gestão que pode ser um grande aliado das empresas diante deste cenário de incertezas: a Liderança Servidora. Mas antes disso é necessário esclarecer algumas questões. Acompanhe:
Qual a função do líder?
O líder é responsável por conquistar e influenciar pessoas a trabalharem de forma unida e correta em prol de objetivos comuns. É importante destacar que, apesar de muitos presumirem que os termos “gerente” e “líder” possuem o mesmo significado, ambos apresentam habilidades diferentes.
James C. Hunter disse em seu livro “O Monge e o Executivo”: “Gerência é o que fazemos, liderança é quem somos”.
Uma pessoa com o cargo de gerente nem sempre exerce a função de líder com sucesso. Em contrapartida, não é preciso possuir um cargo de gerente para ser considerado um bom líder. Percebeu a diferença?
O ideal é que essas habilidades andem em conjunto, mas isso dificilmente acontece. O problema é que a grande maioria dos treinamentos para líderes focam apenas na capacidade de administrar coisas, e não pessoas. Questões técnicas podem levar os gerentes à posições de liderança, mas não farão dele um líder que inspire as pessoas a produzirem um trabalho de qualidade.
Crise da liderança
Três quartos de todas as empresas americanas gastam por ano uma média de 15 bilhões de dólares em treinamento, no intuito de capacitar seus líderes a aumentarem as habilidades com seus subordinados. O problema é que todo esse esforço é um grande desperdício, já que menos de 10% dos treinados colocam seu aprendizado em prática.
Pode-se identificar através dos dados acima a dificuldade em formar bons líderes. Como esperar que os líderes motivem suas equipes à alcançar o sucesso, quando eles mesmos não estão motivados? O primeiro passo para essa mudança está em servir.
O que é Liderança Servidora, afinal?
“Você não precisa ter um diploma de faculdade para servir. Não é fundamental conhecer a segunda lei da termodinâmica na física para servir. Só precisa ter um coração generoso e uma alma movida pelo amor.” (Martin Luther King Jr.)
Robert Greenleaf apresentou o conceito de liderança servidora em 1977, no livro Servant Leadership. O autor propõe uma alternativa para a autoridade, em que o líder ao invés de impor regras, passe a servir sua equipe. Dessa forma a liderança deixa de ser considerada um poder para se tornar uma dedicação.
O líder servidor conecta-se diretamente com os indivíduos de sua equipe e procura compreender quais são as reais necessidades de cada um, para então poder auxiliá-lo da melhor maneira possível.
É bastante comum em outros modelos de gestão, que os líderes se preocupem mais com os resultados da empresa, do que com o bem-estar da equipe. É uma atitude contraditória, não acha? Já que os lucros da empresa dependem diretamente do desempenho de seus colaboradores.
A liderança servidora foge completamente deste padrão, pois entende que se dedicar ao bem-estar e necessidades de seus funcionários, promove altos níveis de satisfação da equipe, que trabalha motivada, mais engajada com os valores da instituição e, consequentemente, gera mais resultados.
Agora que você já sabe quais são as principais características da liderança servidora, está na hora de seguir para a orientação de como usá-la com as novas gerações. Separei cinco dicas infalíveis, não deixe de ler até o final:
Mude a visão de hierarquia
A hierarquia de líder e subordinado costuma passar uma visão de superioridade, e as novas gerações não se sentem confortáveis com este cenário.
Para desfazer-se dessa imagem é necessário que a equipe enxergue o líder como um semelhante, que está disposto a servi-los de igual para igual. Esse exercício gera uma confiança mútua, e quando os funcionários se sentem no mesmo patamar dos líderes, torna-se mais fácil influenciá-los positivamente.
Saiba ouvir
Você já ouviu falar sobre a escuta empática? Essa prática consiste na tentativa de entender o próximo. Ouvir o que ele tem a dizer, compreender as razões que o levaram a tomar determinadas decisões e, principalmente, colocar-se em seu lugar. Esse passo pode ser ainda mais eficiente nos casos em que o líder e o funcionário são de gerações diferentes, pois a possibilidade de haver conflito de opiniões é maior.
O líder que propaga a prática da escuta empática estabelece relações mais abertas com seus liderados. Essa habilidade o torna acessível e as pessoas se sentem mais confiantes em procurá-lo. Mas é importante lembrar que escutar alguém não significa concordar com o que foi dito, e sim demonstrar interesse em compreender suas motivações e desejos.
Tenha caráter
“Pensamentos tornam-se ações, ações tornam-se hábitos, hábitos tornam-se nosso caráter e o caráter torna-se nosso destino.” (James C. Hunter)
Do grego “gravar”, o caráter define quais são os valores e princípios que as pessoas desenvolvem no decorrer de suas vidas. É de extrema importância em qualquer cenário, pois por meio dele é medida a disposição do ser humano de fazer ou não a coisa certa.
A liderança é definida a partir do caráter do líder, que deve agir de maneira correta e transparente para servir de exemplo à sua equipe. Aqueles que não seguem essa linha, estão suscetíveis a fracassar e denegrir não apenas sua imagem, mas a de todos que o seguem.
No livro “O Monge e o Executivo”, o autor James C. Hunter diz que os líderes devem passar no “teste do cheiro” para agradarem os jovens. Isso consiste na teoria de que as novas gerações possuem um “faro” para a hipocrisia, e quando identificam essa característica no líder, simplesmente o descartam.
Por crescerem em meio a escândalos no mundo político e empresarial, os jovens possuem certa descrença em relação às instituições, mas quando o líder atende suas expectativas e prova merecer sua confiança, são extremamente dedicados e leais.
Motivação gera resultados
É de senso comum que a motivação seja o principal componente de uma liderança efetiva para as novas gerações. E de acordo com a “Teoria da Motivação”, publicada pelo renomado professor Frederick Herzberg, existem dois fatores responsáveis por mantê-la no ambiente corporativo:
Fatores motivadores: relacionados ao cargo ocupado. O profissional leva em consideração fatores como oportunidades de crescimento, reconhecimento do trabalho realizado e os desafios propostos. Eles são os principais motivos no aumento de produtividade dos funcionários.
Fatores higiênicos: relacionados à empresa. O profissional leva em consideração fatores como salário, benefícios, ambiente de trabalho e relação dos líderes com os funcionários. Eles são os principais motivos de insatisfação dos colaboradores.
Ao contrário do que muitos pensam, não é o dinheiro que motiva as pessoas. Boas empresas buscam satisfazer as verdadeiras necessidades de seus funcionários para mantê-los motivados. Faz com que eles se sintam necessários, respeitados e que possuam uma grande e eficiente liderança.
Crie propósitos
“Essa é a verdadeira alegria na vida, ser útil a um objetivo que você reconhece como grande”. (George Bernard Shaw)
As novas gerações sentem necessidade de criar propósitos para suas vidas e agregar valor ao mundo, então é de extrema importância que os valores da organização sejam compatíveis com seus valores pessoais.
O líder é o responsável por mostrar os valores da empresa e indicar o comportamento que a equipe deve assumir, dizer sempre o que há de importante em cada uma das funções. É necessário passar convicção em seus argumentos, de modo que os indivíduos acreditem nos princípios da empresa, desejem fazer parte dela e, principalmente, colaborem para seu crescimento.
Exemplo prático de um líder servidor
O eterno e querido ídolo, Ayrton Senna, foi também um grande exemplo de liderança servidora. Ele conquistou seu tricampeonato na fórmula 1 de uma maneira inusitada, você se lembra?
Senna não precisava ser o primeiro a atravessar a linha de chegada para conquistar o título, sua vitória já estava garantida. Então perto de finalizar a prova, notou que logo atrás estava seu companheiro de equipe e grande amigo pessoal, Berger, que nunca havia ganhado uma corrida. Eis que, para surpresa de todos, Ayrton Senna deixou Berger ultrapassá-lo, e garantiu seu título com a segunda posição.
Ótimo exemplo, não é? Isso nos mostra que um bom líder desiste de suas próprias vontades para servir o próximo.
Para encerrar:
O dia em que os líderes se dedicarem a servir seus liderados e buscarem ao máximo atender suas necessidades, as organizações poderão contar com funcionários mais engajados, que trabalham motivados e geram mais retorno. Este é o grande segredo para alcançar o sucesso através da liderança.
E lembre-se o que disse o maior líder de todos os tempos:
Quem quiser ser líder deve ser servidor. Se você quiser liderar, deve servir. (Jesus Cristo)
Gostou das dicas? Então não deixe de acompanhar o próximo artigo para aprender novas técnicas de liderança. Separei uma sequência de estratégias que serão distribuídas semanalmente para você gratuitamente, então fique ligado e entenda melhor sobre a Liderança Servidora.
Até breve!
Marcelo Simonato
Escritor, Palestrante e Mentor de Carreiras
Especializado em Liderança, Empreendedorismo Planejamento Estratégico e Empregabilidade
www.marcelosimonato.com
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